terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Só acha quem procura.

Foi o que o meu professor de Antropologia disse em uma de suas aulas. A aula era sobre métodos e o contexto era uma discussão sobre preconceito e pesquisa de campo. Preconceitos são quase sempre encarados como negativos e, até onde eu entendi, a intenção dele era mostrar a importância de você ir para o seu objeto de estudo munido de preconceitos.

De forma simplificada e bem resumida, ele dizia que isso é importante para saber por onde começar. Se você não pensa nada a respeito de determinada coisa, essa coisa não pode nem despertar a sua curiosidade, em primeiro lugar. Como podemos escolher entre dois lugares sem ter vivenciado em nenhum dos dois? Por causa de conceitos prévios aos quais tivemos acesso de alguma forma.

Pode ser um filme, um livro, uma fofoca do senso comum... Os estereótipos funcionam como guias para o antropólogo. Porque, até para desconstruir alguma coisa, você precisa de, primeiro, ter essa coisa em mente. E é com essa analogia que eu defino o propósito desse blog.

Em 2008, esse blog ficou completamente abandonado, como se pode observar pelas datas. Há uma razão para isso e não se trata de falta de tempo. Escrever é muito difícil. É lidar com o julgamento mais severo de todos: o seu.

Quando eu leio coisas que escrevi há um bom tempo, eu sinto vergonha. Vergonha dos meus pensamentos antigos, que são bem diferentes dos que eu possuo hoje. Assim como os que eu possuo hoje serão bem diferentes dos que possuirei no futuro. Então, pra que escrever?

Pois bem. Nesse período de afastamento da escrita, o que se colocou pra mim foi uma falta de perspectiva tão grande, que eu tive que fazer esse texto metalingüístico. Os meus pensamentos vergonhosos são o meu guia, poxa. Eu só posso sentir vergonha de uma coisa que eu cheguei a ter, isso é crescer.

Que se dane se daqui a um tempo eu vou achar esse texto que eu acabei de escrever ruim! Agora, ele se coloca pra mim como uma questão fundamental e é agora que a vida acontece.

Afinal, a nossa vida é realmente o mito de Sísifo. Porque só existe vida enquanto existe processo e é nesse sentido que eu reinauguro esse blog.
"The record shows I took the blows and did it my way."